ANDRAGOGIA E
HEUTAGOGIA
O termo Andragogia
provém do grego andros = adulto + agogus = guiar, conduzir, educar. Foi fundado
em 1833, pelo professor alemão Alexander Kapp para descrever o método de ensino
utilizado por Platão com pequenos grupos de adultos: Os grandes mestres dos
tempos antigos - Confúcio e Lao Tsé na China; os profetas hebreus e Jesus nos
tempos bíblicos; Aristóteles, Sócrates e Platão na Grécia antiga; e Cícero,
Evelídio e Quintiliano na Roma antiga foram professores de adultos, não de
crianças. As experiências deles aconteceram com adultos e, portanto, eles
desenvolveram um conceito muito distinto do processo ensino/aprendizagem do que
aquele que acabaria por dominar a educação formal. Esses professores notáveis
acreditavam que a aprendizagem era um processo de investigação mental, e não a
recepção passiva de conteúdos transmitidos. Por esse critério, eles
desenvolveram técnicas para envolver os discentes com a investigação.
O vocábulo
"andragogia" permaneceu esquecido por quase um século, até ser utilizado,
primeiro por Rosenstock em 1921, em um artigo no qual defendia que a educação
dirigida a adultos exigia bases filosóficas e metodológicas distintas, e então,
em 1926, por Eduard C. Linderman, em uma pesquisa intitulada The meaning of adult education [O
significado da educação de adultos].
No entanto, as ideias
sobre uma educação especificamente voltada aos adultos só alcançaram ampla
disseminação na década de 1970. Para Knowles (1998), o aprendiz adulto se
caracteriza fundamentalmente pelo auto direcionamento decorrente de uma
maturidade orgânica e psicológica. Ou seja, para ser adulto, o indivíduo
atingiu um estágio de maturação física (prontidão), que lhe confere a
capacidade de reprodução, bem como um estágio de maturação psicológica, que lhe
possibilita assumir responsabilidades pela própria vida, no âmbito social,
profissional e familiar.
Krajn (1993) recomenda
um período andragógico estruturado em cinco fases:
1. Identificação das necessidades educativas: O andragogo tem que
identificar as verdadeiras necessidades educativas dos adultos. Estabelecem-se
metas e objetivos com a finalidade de satisfazer às necessidades individuais e
sociais do sujeito;
2. Planificação do programa: A eficácia da educação
de adultos depende, quando a iniciação da formação, se tenha em conta a
experiência prévia e o nível educativo dos alunos. O programa deve estar aberto
a mudanças que poderão surgir quando se revelam novas necessidades educativas;
3. Planificação dos métodos: Devem estar adequados
aos hábitos e às técnicas dos adultos;
4. Aplicação do programa: Essencialmente o trabalho em grupo,
porém o estudo independente também permite aos indivíduos uma maior
responsabilidade pela sua própria aprendizagem;
5. Avaliação dos resultados e rediagnóstico da aprendizagem:
Tendo
em conta que a educação de adultos se afirma como uma espiral de ciclos
andragógicos, orientados para um objetivo educativo definitivo que, na
realidade, nunca se consegue alcançar, uma vez que se centra no pleno
desenvolvimento do ser humano, torna-se difícil a sua avaliação. Os métodos
atuais de avaliação são insuficientes para avaliar mudanças quer na
personalidade, nas atitudes e até mesmo nos valores produzidos pela educação dos indivíduos (KRAJN, 1993 apud OSORIO, 2003).
Além disso,
o adulto segue acumulando cada vez mais experiências, que compõem um importante
banco de recursos para o desenvolvimento da sua aprendizagem. Por essas razões,
a educação de adultos demanda uma filosofia, conceitos e métodos específicos
que valorizam a autonomia do aprendiz. Essa autonomia está cada vez mais
estabelecida, especialmente, com a inclusão de novas tecnologias no ensino de
adultos, através da Heutagogia que significa no grego “auto guiar” no ensino
superior é o conceito de aprendizagem que mais cresce atualmente e que gera uma
responsabilidade educacional em que o discente é o maior e pode-se dizer em
muitos casos o único gestor do seu processo educacional. A grande quantidade de
cursos na modalidade de Ensino A Distância (EAD) proporciona ao discente um
modelo de ensino não presencial, com carga horária flexível, e conteúdo
disponível por meio de plataformas criadas com ajuda da tecnologia da
informação, que permite ao discente planejar como, onde e qual melhor horário
para estudar.
Com as
constantes e novas exigências do mercado profissional, bem como da necessidade
de uma formação continuada e permanente, o Ensino à Distância (EaD) vem
tornando-se uma opção oportuna ganhando seu devido espaço no campo educacional.
Essa conquista foi possível por conta da vasta propagação da Internet e dos
avanços tecnológicos dos últimos anos. Tais inovações tornaram possíveis às
pessoas já inseridas no mercado de trabalho, retornarem aos seus estudos,
ampliando seu leque de conhecimentos e possibilidades de crescimento pessoal e
profissional. A EaD encontra-se em franco crescimento, sendo alvo de intensa
discussão. “Na formação dos professores, é fundamental a
reflexão crítica sobre a prática de hoje e de ontem, para que se possa melhorar
a prática do amanhã” (FREIRE, 2010, p. 39).
A partir das ideias do
EaD e do mundo do trabalho, já se passou a ver a Andragogia de outra forma,
sugerindo que este método de aprendizagem deveria ser conhecido como
Heutagogia. Blaschke (2012) afirma que, a Heutagogia é de grande interesse para
o EaD, pois compartilha alguns atributos chaves, como a autonomia e o auto
direcionamento do discente, além de ter raízes pedagógicas no ensino e
aprendizagem de adultos. A característica do EaD é a aprendizagem
autodeterminada. Assim, tanto o EaD quanto a Heutagogia têm o mesmo público em
comum, os discentes adultos maduros. Para Blaschke (2012, p. 59), a Heutagogia
tem potencial de se tornar uma teoria do EaD, porque amplia a abordagem andragógica,
ao abandonar o caminho da aprendizagem, tornando-se um processo para o
discente, que negocia a aprendizagem e determina o que e como vai ser
aprendido.
A Heutagogia é o
progresso dos métodos educacionais anteriores, conhecida como a aprendizagem
autodeterminada, na qual o discente aprende em seu tempo e não no do professor.
O quadro 2 revela diferenças entre a Andragogia e Heutagogia, revelando que elas
ultrapassam as aulas expositivas, centradas no docente, promovendo interação
entre o discente e o professor. Existe um processo de amadurecimento, dentro do
qual o individuo passa da dependência para a auto direção e depois para
autodeterminação.
Blaschke (2012, p. 61) aponta características
especificas do EaD que são alinhadas com a Heutagogia como:
• Tecnologia: reconhece a necessidade premente e conveniente da
associação de recursos tecnológicos no processo de EAD, alinhando as para que
façam parte da prática do sistema de aprendizagem não presencial. A Heutagogia
seria um conceito capaz de absorver as tecnologias emergentes principalmente em
ambientes virtuais, embora aponte ainda a necessária continuidade nas discussões
a respeito para firmá-la como um princípio do EAD;
• Perfil do discente: Na prática, o EAD está voltado à aprendizagem,
tendo como público alvo o adulto, sendo idealizado de forma gradativa focando
angariar adeptos cujo perfil se enquadre em um nível educacional e cultural
mais elevado. O EAD tem sido moldada pela teoria de Knowles, que reconhece a
Andragogia como um conjunto de métodos para ensinar adultos. A Heutagogia pode
ser considerada, neste contexto, como aplicável também aos adultos, em ambientes
de aprendizagens não presenciais;
• Autonomia do Discente: A prática Heutagogica requer certo grau de
autonomia no processo de aprendizagem por parte do discente, premissa que se
encontra arraigada no próprio sentido da Heutagogia.
Com base nestes modelos
podem-se considerar os seguintes métodos utilizados no EAD: Chat, Correio
Eletrônico, Fórum, Jogos Educativos ou de Simulações de Negócios, Sites para
Consultas, Material impresso, Áudio ou Vídeo Aulas, Teleconferência/Webcast,
Conteúdo de Autoaprendizagem, Prova de Avaliação Presencial, Trabalho Individuais
ou Grupo e Monografia (MAIA; MEIRELLES, 2007). Outras estratégias de ensino
usadas em aulas presenciais podem ser adaptadas para o EAD, tais como Método do
Caso ou Mini Caso, Ensino com Pesquisa, Mapa Conceitual e Resumo.
Entende-se com esta
análise comparativa que a mudança ela necessita acontecer, tanto no ensino como
nas ferramentas da tecnologia, e muito mais a adaptação do professor com um
aprendizado contínuo afim de adaptar-se a expectativa do adulto com as
constantes mudanças do mercado docente e profissional. Abraço. Edgar de Moura.
(Obs.: Texto extraído da minha
monografia de especialização em Gestão Estratégica de Negócio realizado em
2017/2018 na FAFIRE/Recife com o título Ensino A Distância,
Treinamento e Aperfeiçoamento de Pessoal: A Andragogia e a Heutagogia no
ambiente corporativo).